Pré-temporada curta, calendário apertado e chegada de novos atletas com níveis físicos diferentes dos demais. São muitos os desafios que cercam o trabalho do departamento de preparação física ao longo da temporada. Márcio Corrêa, preparador físico da Chapecoense, completa 30 anos de profissão em junho deste ano. O profissional já passou por grandes clubes brasileiros como Grêmio, Internacional e Athletico Paranaense, além de equipes do exterior como Cerro Porteño-PAR, Belenenses-POR e Al-Shabab-ARA. Márcio conversou com a reportagem e falou um pouco sobre o seu trabalho no clube.
Como é a rotina de controle, monitoramento e individualização do treino?
“Quando o atleta chega ao clube, ele passa pela pesagem, logo responde um questionário relacionado à recuperação, ao sono e ao bem estar. Os que sentem algum desconforto muscular serão direcionados ao setor de fisiologia e se submetem a uma avaliação termográfica (câmera que fotografa a parte interna do músculo, demonstrando o nível de calor de cada região específica, o que na maioria das vezes justifica a extensão do desconforto muscular). Logo após essa avaliação, o atleta passa por outro equipamento chamado simplex (mini laboratório portátil utilizado para a avaliação bioquímica, que a partir da coleta de uma gota de sangue, em alguns minutos saberemos o nível do dano muscular que esse atleta apresenta e se o desconforto está mais, ou menos relacionado a grandeza dos marcadores). Dentro do treinamento, o perfeito não existe, até porque a biologia e as adaptações que cada atleta obteve ao longo da carreira, proporcionam um ‘mapa’ de respostas e desempenho único”.
Como trabalhar de maneira adequada no futebol, tendo em vista a falta de tempo adequado para o desenvolvimento ideal das equipes?
“Realmente o tempo é um dos fatores determinantes para o trabalho, pois as células corporais precisam de estímulos de treinamento adequados. Alimentação e intervalos para que as respostas aos gestos técnicos e as funções fisiológicas melhorem também são importantes. A realidade do calendário do futebol brasileiro nos proporciona um ‘quebra-cabeça’ na hora de prescrever o treinamento. Muitas vezes temos 30 jogadores em nosso plantel, mas alguns atuaram 100% na temporada anterior, uns estão chegando da base, outros foram reservas em suas respectivas equipes e também tem aqueles que estão retornando de lesões ou voltando do exterior, com calendários diferentes e dependendo do país, há uma diferença no nível técnico e físico do futebol”.
Como é feita a seleção de atletas pelo departamento e como adaptar todos a uma resposta satisfatória aos jogos?
“Um detalhe que soma muito na contratação de atletas é a observação sobre os históricos de lesões, o tempo de prática na modalidade e o quanto competiram na temporada anterior. Dependendo do padrão em que tudo isso ocorreu, há uma grande influência nas futuras temporadas, podendo ou não atrasar a preparação do atleta. Experiência dentro das competições que a equipe disputará também é um fator importante. Lógico que o que predomina diante de todos esses fatores são as capacidades técnicas e cognitivas, isso normalmente é o fator que determina a seleção para uma contratação”.
Como minimizar e ajustar os pontos divergentes em relação aos atletas que chegam ao clube e precisam buscar uma condição de desempenho melhor?
“Desde que cheguei ao clube, em janeiro deste ano, buscamos organizar junto a todos os setores um processo, como se fosse um raio-x. Antes de iniciar qualquer programa de treinamento para futebol, precisamos saber se o jogador está apto a receber as cargas que o levarão a adaptações futuras. Após todas as avaliações médicas (cardiológicas e de saúde), o processo segue através de uma análise onde buscamos conhecer os itens básicos sobre lesões, saúde, nutrição, tempo de participação em jogos, tempo de afastamento, etc. Ao final do protocolo, temos a leitura da parte cognitiva do atleta, o que também é muito importante para o discernimento intelectual e o entendimento da parte teórica exigida no trabalho. Após essa primeira etapa, temos as avaliações funcionais onde o setor de fisioterapia colabora ao identificar previamente possíveis fatores de riscos relacionados a mecânica dos movimentos, déficit de forma muscular e detalhes sobre a postura corporal, que são informações importantíssimas para que o preparador físico elabore a execução das cargas e confeccione o treinamento com maior segurança em busca das metas propostas. O técnico sempre fica a par de todos os detalhes sobre controle e avaliações, pois a tática e a estratégia precisam respeitar os parâmetros iniciais da condição fisiológica para a definir as suas metas da semana. Além disso, sempre ao final ou no início de cada atividade, através das leituras das avaliações, o treinamento é reciclado e direcionado à novas metas. Essa ação de flexibilização de acordo com as respostas individuais dos atletas, auxilia na diminuição de lesões e desgastes desnecessários. O conhecimento e a experiência dos profissionais que conduzem o trabalho são determinantes para a boa conduta”.
Como você avalia o seu trabalho na Chapecoense até aqui?
“Estou muito feliz com o ambiente da Chapecoense e aos poucos estamos buscando modernizar todos os departamentos que auxiliam no desempenho dos atletas. Há um esforço conjunto por parte da diretoria e de todos os setores para dar as melhores condições possíveis de trabalho. Diretoria, preparação física, fisiologia, nutrição, fisioterapia e a medicina, trabalham de forma transdisciplinar para que o clube cresça cada vez mais e alcance patamares maiores”.
Fonte: Assessoria/ACF