Como em 2002, a eleição presidencial verticalizou a disputa estadual. Como em 2018, o resultado das urnas é imprevisível. Com as intenções de voto cristalizadas entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL), nem candidato a deputado deixa de ser perguntado sobre qual lado está nessa polarização.
Mais de 80% dos brasileiros dizem já ter definido seu voto para presidente, mas para governador de Santa Catarina a disputa será voto a voto.
Pelo menos metade do eleitorado catarinense está com Bolsonaro, assim como quatro dos cinco principais candidatos ao governo. Jorginho Mello (PL) tem a vantagem do 22 e Esperidião Amin, um patrimônio histórico de votos. Para Carlos Moisés e Gean Loureiro sobram as faixas menos radicais: o primeiro conta com 35% de bom e ótimo na avaliação de governo e o ex-prefeito da Capital, que é o mais desconhecido, com propaganda de grife sobre as 2 mil obras em Florianópolis.
Décio Lima (PT), o único que está do outro lado, aposta todas as fichas na tendência nacional favorável à Lula e confia que, assim, chegará ao segundo turno. De fato, se conseguir converter o terço lulista em votos para o governo, estará lá. No centro da estratégia da verticalização em favor de Décio, a Frente Democrática conta com Gelson Merísio, o ex-presidente da Alesc hoje no Solidariedade. Em 2018, ele enfrentou a onda Bolsonaro e, desde o início da campanha, previa que a polarização Lula/Bolsonaro influenciaria o resultado ao governo.
As pesquisas de intenção de voto mais do que apontar quem vai ganhar ao final, são importantes para contar a história das eleições. Em 2022, depois dos desacertos e surpresas da última disputa a governador e com a pequena quantidade de pesquisas feitas pela imprensa catarinense, o eleitorado catarinense ficará às cegas até a abertura das urnas.
Depois, será preciso fazer o caminho de volta para entender o que ocorreu e quais narrativas prevaleceram sobre a decisão do eleitor. E terá de ser rápido, porque o segundo turno está logo ali e será uma nova eleição sob as forças das bancadas eleitas e do resultado nacional.
Movimento feminino
Se eleger Jorginho Mello governador, propagandeia a candidata a vice do PL, delegada Marilisa Boehm, Santa Catarina ganhará uma vice-governadora como já tem e uma senadora _ como já teve. “As mulheres representam mais da metade dos eleitores. Elas irão decidir a eleição. Por isso peço que as mulheres não deixem de votar e escolham o 22. Ao eleger Jorginho Mello nosso Estado ganhará uma vice-governadora e uma senadora, pois a Ivete assumirá definitivamente no Congresso Nacional”, disse sobre a viúva de Luiz Henrique, Ivete Appel da Silveira. A senadora abriu sua casa em Joinville para café da manhã com mulheres esta semana. Fundadora da Delegacia da Mulher em Joinville, Marilisa garantiu a elas que, se eleita, vai trabalhar pelo combate à violência doméstica, com maior efetivo e mais delegacias, pelo empreendedorismo feminino e pela saúde da mulher. “Temos de mostrar nossa força e fazer a diferença”, concordou a anfitriã. A senadora Ivete apoiou a candidatura naufragada de Antídio Lunelli e, com o gesto de Jorginho, ficou muito à vontade entre o MDB bolsonarista do Norte de SC que não aderiu à campanha de Carlos Moisés.
Cacife das mulheres
Jorginho Mello não economiza elogios à candidata a vice Marilisa Boehm. “Consegui uma vice de Joinville, uma mulher querida, é delegada, advogada, professora, mãe, está me ajudando uma barbaridade lá no Norte”, afirma. A delegada também ajudou a cacifar a campanha do PL ao governo que, com R$ 9,4 milhões, é a mais robusta até agora. O PL, aliás, usou da tática de mulheres candidatas a vice em seis estados. Com isso, o candidato a governador acessa recursos mais polpudos previstos pela Lei Eleitoral para as candidaturas femininas.
Sabe muito
Esperidião Amin lembra que não foi bom para Santa Catarina votar pelo número em 2018. “O que eu quero é que seja feita a comparação e que não se repita votar num número. Não foi bom para o Estado votar no 17 e 17”, tem dito o ex-governador. Ele destaca que a reforma política está em curso no país e vai afunilar a quantidade de partidos. Até esse abalo nas estruturas partidárias, com a cooptação do MDB e de prefeitos de todas as siglas pelo governo, como ele avalia, talvez faça parte de um processo de aperfeiçoamento da política, estima o senador.
Sem penca
Jorginho Mello está muito empolgado com o desempenho de campanha e lembra que não está em chapa pura por arrogância. “Conversei com todos, mas cada partido acha que é dono de Santa Catarina. Então, conversei com presidente Bolsonaro e ele disse: Jorginho, vai sozinho, vai sozinho que é melhor. Está muito melhor do que fazer uma penca de gente interessada em emprego, em boquinha ou carguinho.” O senador do PL diz não ter ciúmes de outros candidatos que queiram apoiar Bolsonaro. Ele calcula que Bolsonaro fará mais de 60% dos votos catarinenses. “Só faltava votar no Lula”, diverte-se.
Nada do que foi será
Há 20 anos, Casildo Maldaner, então candidato a senador pelo PMDB, foi na frente. Largou José Serra e apoiou Lula. O ex-governador e irmão já falecido do agora também candidato a senador Celso Maldaner (MDB) antecipou o sentimento das urnas. O eleitorado catarinense deu a maior vitória proporcional do Brasil ao petista naquele primeiro turno e, no segundo, também Luiz Henrique surfou a onda Lula. Dessa vez, é mar agitado e sujeito a ressaca, já que a maioria dos catarinenses, inversamente, estaria apoiando o candidato que não seria o preferido dos brasileiros.
Produção e edição: ADI/SC jornalista Adriana Baldissarelli (MTb
6153) com colaboração de Cláudia Carpes.
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