segunda-feira , 16 dezembro 2024
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Créditos: Rodolfo Espínola/Agência AL

Pelo Estado – Entrevista: Mauro De Nadal

 Mauro De Nadal: “Entramos na política. Agora, para sair é a coisa mais difícil do mundo. Só o eleitor para nos mandar para casa”

Dom ou destino, a aptidão para a política do deputado Mauro De Nadal (MDB), eleito nesta semana presidente da Assembleia Legislativa, surgiu pela vontade popular. O ano era de 1997, ele iniciava sua carreira profissional, almejava ser juiz, quando foi surpreendido pela escolha do povo.

“Eu vim para Florianópolis, fiz escola preparatória para concursos. Em 98 eu fui ajudar o governador (Paulo Afonso), que era candidato à reeleição e, para minha surpresa em 1999, fizeram uma pesquisa lá no meu município e meu nome apareceu como um possível candidato a prefeito”, lembra ele.

A partir dali a vida de Mauro De Nadal tomou rumos diferentes do que ele havia planejado. Começou como prefeito, foi reeleito e depois, passou a ser deputado. Hoje, 26 anos depois, vive um novo momento nesta mesma política que o abraçou. Em seu primeiro dia como presidente do Legislativo, na gestão 2023/2025, recebeu no Gabinete da Presidência a Coluna Pelo Estado para esta entrevista. Na sala de espera da presidência uma movimentação de pessoas afoitas em tratar as primeiras ações do Legislativo com o presidente; em sua sala, Nadal esbanjava tranquilidade e segurança – bagagem que adquiriu em seus longos anos de vida pública.  Natural de Caibi, no Extremo Oeste catarinense, aos 6 anos, mudou-se com os pais para Cunha Porã, região onde fixou residência, até hoje. Em 1996, formou-se em direito pela Unoesc de Chapecó. Cursou a Escola de Magistratura e especializou-se em Gestão Pública. Nas raras horas de folga, gosto de praticar esportes e tem uma paixão por filmes de ação, de época e, claro, de política.

Eleito com mais de 67 mil votos, tem um novo desafio pela frente de conduzir o Legislativo que segundo ele mesmo frisou em seu discurso de posse, deve ter a harmonia entre os poderes como vontade imperativa.

 

OLHO

“O MDB é uma brasa, coberta de cinzas, então você precisa assoprar para que vire brasa e produza fogo”.

 

Presidente, porque escolheu seguir carreira na política?

Por eu ter afiliação partidária, o partido me procurou para ver se eu colocaria meu nome à disposição. Sempre tive um envolvimento muito forte, e na política estudantil também. Lá no município sempre exerci lideranças em grupos e as pessoas acabaram se identificando com aquele meu perfil para ser um candidato, aí entramos na política. Agora, para sair é a coisa mais difícil do mundo. Só o eleitor para nos mandar para casa, porque já não somos mais dono da caminhada. Pertence ao povo que confia o voto.

 

A política, como tudo na vida, tem um lado bom, e tem o lado ruim, ônus e o bônus, o que a política representa na sua vida?

Representa muita entrega, sabe? Através da política é que a gente consegue fazer com que a vontade daquele cidadão que não tem muita voz, possa ser ouvida. E, principalmente, para nós que vivemos em municípios pequenos lá do interior a política nos permite também, desenvolvermos projetos importantes para desenvolvimento regional. Tudo o que imaginamos hoje, passa pela política, é uma ferramenta para ajudar as pessoas e os nossos municípios.

O senhor foi reeleito em 2022 com mais de 67 mil votos. Ao que atribui essa escolha nas urnas?

Eu tenho, ao longo dessa trajetória de deputado estadual, duas marcas que são muito essenciais no momento da eleição. Nós trabalhamos com a meta do trabalho e da presença. Então o nosso gabinete é muito atuante nas demandas que chegam, além da minha presença nos municípios. Esta segurança é que dá continuidade ao trabalho, pois estamos sempre presentes. Nós conseguimos colher informações, por meio do nosso líder e do cidadão que vive no município e se identifica muito com a presença do deputado Mauro. O trabalho que a gente construiu ao longo deste período é que nos deu o crédito do voto. Veja bem, eu fui o quinto mais votado e não fui ungido por nenhuma sigla. Nenhuma das ondas. Nem a onda 13, nem a onda do 22. Nós viemos com 15, 220, que era meu número. Então o nosso voto foi um voto de construção, de trabalho, construído com amigos e conhecidos. Então essa foi a fidelidade no momento, onde eles acreditarem novamente no nosso mandato.

Pois é presidente agora que a gente já passou a fase das conversas, do diálogo e a eleição findou essa fase, a mesa diretora já foi eleita e o senhor, eleito presidente. O parlamento efetivamente começou. Quais são os próximos passos daqui pra frente?

Olha, o primeiro aqui é organizar aquelas composições das nossas Comissões permanentes que a Casa tem. Oportunizando a todos os blocos seus espaços dentro dessas Comissões, porque a partir da instalação delas, o parlamento começa a andar, porque os projetos eles, obrigatoriamente, precisam ser avaliados nessas Comissões. O próximo passo aqui é esse, nós vamos seguir dentro daquela filosofia que já foi no período que eu estava como presidente, em 2021. Poder fazer um trabalho de gestão na casa é aprimorar cada vez mais as nossas ferramentas para permitir com que o nosso deputado consiga prestar um serviço de qualidade que seja visto pelo cidadão. Temos a expectativa de que logo estaremos com os projetos, todos também de forma digital. A sua tramitação nas Comissões e até mesmo para o Plenário como uma forma não só da agilizar, mas também de economia de papel. Já conseguimos grandes avanços internamente, mas a gente deve prosseguir nesta linha também. O objetivo maior é aproximar, cada vez, mais o parlamento do cidadão de Santa Catarina.

E no âmbito mais geral quais são as suas prioridades agora?

O presidente é o grande maestro dos 39 outros deputados, não é? Então, a harmonização da casa é pauta semanal na presidência da Assembleia. Manter um bom relacionamento com os poderes. Já era nossa pauta lá atrás e vai ser durante esses dois anos. Porque o cidadão, no momento em que ele vê esta aproximação entre os poderes, percebe que a política está sendo construída não por uma mão só, mas sim por uma convergência. Então esse trabalho harmonioso, independente, entre os Poderes, é muito positivo para a sociedade.

O senhor falou muito em harmonia no seu discurso. Então, aprofundando mais essa sua resposta, como é que o senhor pretende conduzir agora a sua relação com o executivo, por exemplo?

O próprio governador, ele tem uma experiência muito grande no legislativo. Foi vereador, eu não fui, foi deputado estadual, federal e senador da República. Então ele sabe que é importante termos bom relacionamento com o parlamento. Os deputados, todos querem fazer um trabalho de aproximação, para que consigam realmente fazer os compromissos de mandato. Então, vejo que esta construção com o governo não terá dificuldades aqui na Assembleia Legislativa, porque o mandato passado já demonstrou isso. Todos os deputados estavam ajudando o Governo do Estado, principalmente nos últimos dois anos. Então, essa filosofia ela tem de ser muito presente também no atual Governo, mas os primeiros gestos, evidentemente, que deverão vir do próprio Governo do Estado. Mas a Casa está disposta a ajudar Santa Catarina, ajudar o Governador.

Sim, eu acho que até o primeiro gesto já ocorreu com a presença do governador aqui na no ato de posse, não é?

Sim, e ele volta na terça-feira, às 15h para fazer a leitura da Carta Governamental e a partir daí já começam as relações.

E sobre a reforma administrativa, que é uma das promessas de campanha do governador e que provavelmente deve ser um dos primeiros a chegar aqui à Casa. O senhor já tem algum posicionamento sobre?

Na verdade, a gente não conhece, só ouvimos o Governador falar em entrevistas de que ele pretende fazer a Reforma Administrativa. Agora, o teor do conteúdo nós não sabemos. Mas uma coisa é certa, esses primeiros projetos tendem a vir para o parlamento respaldado pelo voto que elegeu o Governador, então, o projeto vai ser basicamente nesta linha de cumprir aquilo que são as promessas da campanha que o elegeram vitorioso. A Casa não terá problemas em atender o Governador, até porque esta é a vontade do cidadão de Santa Catarina. Vamos recepcionar os projetos e, aprimorá-los onde a gente conseguir aprimorar. Mas, não teremos dificuldade em fazer a aprovação porque nós temos que dar esta oportunidade ao Governo de implementar o projeto que ele se propôs à sociedade catarinense.

Agora falando um pouquinho do MDB, o seu partido o qual tem uma relação desde lá do início. Neste ano, mesmo com menor número de cadeiras que o PL, por exemplo, conquistou a presidência. Como é que o senhor avalia a força do MDB aqui em Santa Catarina?

É um partido que tem capilaridade em todos os municípios catarinenses. Nós temos diretório formado, temos filiados atuantes em todos os municípios. É forte, mas o que que está precisando neste momento é, uma reorganização, partindo do comando central, ou seja, do diretório estadual, através do nosso presidente Carlos Chiodini que está com uma disposição muito grande de fazer esse trabalho. O MDB é uma brasa, coberta de cinzas, então você precisa assoprar essa cinza para que vire brasa e produza fogo. Hoje a gente diminui um pouco os nossos espaços na Assembleia Legislativa, de 9 para 6 cadeiras, mas isso se deve ao momento político. Tivemos uma eleição muito polarizada com uma força muito grande da direita aqui em Santa Catarina. O MDB sempre foi de centro, sem dificuldade nenhuma de posicionamento para direita quanto para a esquerda. Mas, sentimos agora nessas eleições nos obrigou a repensar algumas bandeiras também do nosso partido, para que ele possa reacender com mais força na vida do cidadão de Santa Catarina.

Quais, por exemplo?

Olha, nós tínhamos sempre a bandeira muito forte da democratização que nasceu lá atrás, no Período Militar do Brasil e sempre teve um papel muito importante. Têm muitas dessas bandeiras ao longo da história, que acabaram ficando esquecidas. E hoje a gente precisa repensar o jeito de fazer política. Temos que conversar com esse cidadão, o que ele espera do MDB, para repensarmos a forma como o MDB faz política e, a partir daí, fazermos essa transformação.  O partido ainda está defendendo algumas teses e lembrando figuras importantes do partido e desconsiderando aquilo que está presente na vida e no dia a dia das pessoas. Então nós vamos ter muita conversa para fazer justamente para que o partido consiga se fortalecer de novo e dar esta oportunidade do cidadão se identificar como o MDB novamente.

O senhor já teve na presidência da Assembleia, em 2021, onde, inclusive, gerou uma economia de mais de R$ 400 milhões que foi devolvido ao Governo do Estado e aplicado em prioridades. o ficou de aprendizado dessa dessa gestão? O que que o senhor repetiria e o que não repetiria?

Olha, foi um período curto de 1 ano. Tínhamos muitos projetos que já estavam em andamento, aqui na Casa, pelo nosso presidente Júlio Garcia, eu era vice-presidente. Então muitos desses projetos ele deu encaminhamento. Alguns marcantes, como a implantação do Observatório da Mulher, o primeiro a nível de Brasil no parlamento, com a participação da Universidade Federal e da Estadual, do Ministério Público de SC, Tribunal de Justiça, Governo do Estado e Tribunal de Contas. Conseguimos fazer com que saísse do papel e hoje nós temos informações trazidas aqui para dentro da Assembleia o que dá segurança para desenvolvermos políticas voltadas à proteção da mulher.  Então tivemos ações importantíssimas e que marcaram muito a nossa passagem pela presidência.

O senhor acha que é possível novamente conseguir economizar como daquela vez que o senhor conseguiu?

Estamos iniciando, temos projetos em destaque que foram encaminhados pelo meu antecessor, o deputado Moacir Sopelsa, eu preciso ver esses projetos, o quanto isso envolve do orçamento da Assembleia. E o objetivo é justamente esse, trabalhar mais e gastar menos. Então nós temos que estar mais presentes na vida do cidadão, mas usando ferramentas mais econômicas. Vamos continuar fazendo esse trabalho de gestão ao longo de todo esse período. Mas, é difícil fazer uma projeção porque nós estamos vivendo em uma queda de receita, onde baixou de 25% para 17% o imposto sobre energia elétrica, combustíveis e sobre a telefonia e isso impacta direto em todos os Poderes, então eu preciso agora tomar conhecimento de tudo isto. Para depois fazermos as projeções.

 O senhor é natural de Caibi, né? Fixou residência bastante tempo em Cunha Porã. Conhece bem a realidade do interior? Qual é a importância do interior para o desenvolvimento do estado?

Olha a organização dos nossos pequenos municípios é a nossa grande marca. Hoje a gente percebe que através do comando dos seus municípios, prefeitura e vereadores, é possível levar ferramentas que permitam com que o catarinense consiga trabalhar e produzir. Essa produção do catarinense dá um respaldo econômico muito grande. O nosso agronegócio cresce bastante e está mais concentrado nos nossos municípios pequenos, porque lá a vida é basicamente 50% urbana e 50% rural. Tem municípios que a população é mais rural do que urbana, então a vida no campo é que permite que Santa Catarina se destaque, até mesmo internacionalmente. Se não me falha a memória, estamos perto de chegar na quarta economia nacional. Então a organização dos pequenos municípios é que faz com que o estado tenha essa força. Essa representatividade deste conceito tão positivo do Brasil, está no Oeste catarinense.

Quais são as suas prioridades?

Carecemos muito ainda de infraestrutura viária para nossa região. Quer sejam através das rodovias federais e estaduais, tivemos agora, principalmente nos últimos dois anos do governo Moisés uma atenção toda especial na elaboração de projetos da recuperação dessas rodovias estaduais. A gente percebe que o Governo Federal está devendo muito a Santa Catarina, principalmente no nosso extremo oeste catarinense. As piores rodovias federais estão lá concentradas, então a infraestrutura viária é o nosso maior gargalo. E um outro tema que é muito prioritário no nosso dia a dia é são as especialidades médicas. Nós precisamos levar mais especialidades para esta região mais distante da Capital do estado. Temos hospitais referência na nossa região, mas que carecem de algumas especialidades, porque muitos dos nossos pacientes, para conseguir fazer tratamento em áreas específicas, precisam deslocar para a Capital. Então, isso de ponta a ponta, são 700 km que nós temos de deslocamento, é um desafio grande para essa próxima gestão. E não é só um desafio só do legislador, mas também do Executivo do Estado, é a de levarmos essas oportunidades para o interior de Santa Catarina.

Edição e textos:
ADI/SC – JORNALISTA MÔNICA FOLTRAN
COM COLABORAÇÃO DE CLÁUDIA CARPES.
CONTATO PELOESTADO@GMAIL.COM

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